Não assista o BBB. Leia um livro.
Sugestão de leitura.
Dando continuidade à proposta de ajudar na divulgação de livros que falam de e da Ciência para um público leigo ou iniciante, nas várias áreas da pesquisa científica, estou agora sugerindo a leitura deste EM BUSCA DA MEMÓRIA, de Eric R. Kandel, ganhador do Prêmio Nobel de Medicina em 2000. Uma das intenções de Kandel com este livro é popularizar uma nova ciência da mente. Combinando elementos autobiográficos, o autor mostra que o cientista é também um ser humano como qualquer um de nós, e que a emoção e a memória são bases fundamentais para o desenvolvimento da ciência.
Abaixo divulgo uma sinopse do livro e uma entrevista de Kandel à jornalista Claudia Kalb, da Newsweek, em 2008. Quem topar a sugestão, boa leitura.
Sinopse
"Em busca da memória" é, na verdade, várias buscas pela memória. Eric Kandel dedicou sua carreira a entender as bases biológicas de como a mente armazena experiências e reage a elas - trabalho que, além de solucionar um mistério científico, pode ser o ponto de partida para novos tratamentos psiquiátricos. Mas o livro também reúne as memórias do menino que mal teve tempo de brincar porque a família precisou fugir do Holocausto. Apesar de doloroso, o caminho traçado por Kandel ajudou a fundar a nova ciência da mente. "Há agora um consenso na comunidade científica de que a biologia da mente será para o século XXI o que a biologia do gene foi para o século XX", diz o autor.
Nos anos 1950, Kandel era um jovem fascinado por psicanálise. Mas em vez de clinicar, descobriu a paixão pela pesquisa científica. Uma paixão que não o afastou do interesse pelos meandros da mente. Na aplísia, um caramujo marinho, ele descobriu que as experiências vividas fisicamente mudam o cérebro. E também desvendou como o ambiente interage com os genes e os neurônios para provocar aprendizados e comportamentos. Com isso, ele ajudou a mapear a biologia molecular dos processos mentais mais simples. "Se você lembrar alguma coisa deste livro, será porque seu cérebro terá mudado um pouco quando você terminar de lê-lo".
Ganhador do Prêmio Nobel de Medicina quer aliar as ideias de Freud à neurociência
Em 2000, Eric Kandel, professor da Universidade Columbia e pesquisador do Howard Hughes Medical Institute, ganhou o Prêmio Nobel por seu trabalho sobre aprendizado e memória. A primeira paixão de Kandel foi a psicanálise, e ele é um dos principais defensores da fusão entre a neurociência e a psicologia, há muito tempo divididas. Seu livro sobre o assunto, Em Busca da Memória, chegou às livrarias americanas em março. Kandel, de 76 anos, conversou com Claudia Kalb, da Newsweek.
Claudia Kalb – Como Freud se sustenta?
Eric Kandel – Acho que ele é um gigante. Extremamente inteligente, perspicaz e imaginativo. Há coisas que ele disse e não se sustentam. Sua visão sobre a sexualidade feminina estava errada. Mas ele nos forneceu um retrato rico e cheio de nuanças sobre a complexidade da vida mental. É um dos maiores pensadores do século XX.
Kalb – Quais são suas maiores contribuições?
Kandel – Muito do que fazemos é inconsciente. Essa é uma revelação que vem em grande parte de Freud. O fato de que sonhos têm significado psicológico, de que crianças são indivíduos ativos e pensantes, que têm experiências sensuais assim como experiências dolorosas, isso também vem de Freud. O fato de que ouvindo um paciente cuidadosamente você pode perceber muito do que o inconsciente está dizendo. Isso tudo é revolucionário.
Kalb – A psicanálise ainda é relevante?
Kandel – O problema da psicanálise, que é um problema profundo, não é Freud. As gerações subseqüentes não conseguiram torná-la uma ciência mais rigorosa, baseada nas ciências biológicas. A psicanálise como forma de terapia entrou em declínio porque consome muito tempo e dinheiro e, o mais importante, as pessoas não têm mais certeza se funciona ou não. Acho que vai acabar se a comunidade psicanalítica não fizer um esforço sério para verificar os conceitos e mostrar os aspectos da terapia que funcionam, em que condições, para que pacientes e com quais terapeutas. Precisamos olhar para a eficácia biológica de todos os tipos de psicoterapia, da mesma forma que fazemos com os remédios. Isso é o que devemos buscar nos próximos 15 anos. Se conseguirmos, vai haver uma revolução nesse campo. Afinal de contas, Freud sempre dizia que algum dia no futuro teríamos de juntar a psicanálise e a biologia da mente.
Kalb – Quando começou seu interesse pela psicanálise?
Kandel – Quando eu tinha uns 20 e poucos anos. Tinha um grande apelo como aventura intelectual. Era uma forma de compreender a mente humana, as aspirações, o processo mental inconsciente, desejos, sonhos. Fui para a faculdade de Medicina querendo me dedicar apenas à psicanálise.
Kalb – O senhor disse ao grande neurobiólogo Harry Grundfest que queria encontrar o ego, o id e o superego durante seu estágio de seis meses no laboratório dele. Em que estava pensando?
Kandel – Eu era um idiota. Achar que cada uma dessas estruturas mentais complexas tinha uma localização única e que eu poderia encontrá-las em seis meses era um absurdo. Aprendi a ser mais realista. Grundfest colocou em minha cabeça que o cérebro precisava ser analisado uma célula de cada vez.
Kalb – O senhor percorreu um longo caminho. Sobre o que é seu novo livro?
Kandel – Meu livro tem duas finalidades. A mais importante é ser uma introdução para o leitor leigo à nova ciência da mente e à explosão que ocorreu na neurobiologia dos processos mentais nos últimos 50 anos. O segundo tema é minha vida e trabalho – como me interessei pelo problema da memória e como tirei proveito e, em um grau modesto, participei dessa revolução
Kalb – Como será o futuro?
Kandel – O futuro da neurociência é brilhante. O perigo é que nós estamos no pé de uma cadeia de montanhas que as pessoas pensam que já escalamos. É uma montanha enorme. Vai levar um século.
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