quinta-feira, 3 de março de 2011


               PRESIDENTA OU MILITANTE? 

Jorge Perez

Ao ver a polêmica em torno da participação de Dilma na festa da FSP, nos programas de Ana Maria Braga e Hebe Camargo, lembrei-me do início do Governo Lula e pensei escrever um pouco a respeito.

No início do governo Lula, levados pelos ataques da direita mais retrógrada, muitos militantes questionavam: é verdade que Lula, no Palácio, está comprando roupões de banho com bordados de fio de ouro e lençóis com (não me lembro mais a quantidade) milhares de fios? Vinhos estrangeiros de altíssima qualidade e preço, água mineral francesa e outros produtos caríssimos? Centenas e centenas de e-mails circulavam pela rede questionando essas coisas e se perguntando o que estaria acontecendo com o Lula? A direita estimulava a idéia de que Lula havia mudado, mal tinha assumido a presidência. Que ele teria se encantado com o cargo e entregava-se às mordomias e luxos que só a alta burguesia tinha acesso. A intenção era clara. Destruir o militante Lula e firmar a idéia da traição, pois “todo mundo que chega ao poder a ele se entrega”. Foi duro e difícil, algumas vezes, explicar que aquilo não era uma vontade de consumo luxuoso de Lula, mas que o Presidente recebe frequentemente Reis, Presidentes, Primeiro Ministros, embaixadores de outros países, etc. e não se poderia oferecer um almoço feijão com arroz, bife e ovo frito, tubaína em copo de extrato de tomate e café solúvel em copinho descartável. 
 
Essa fase felizmente passou. É importante destacar que os questionamentos vinham em grande parte da militância de classe média, que nunca contaminou a população que acreditava no seu Lula popular. Pelo contrário, o povo se orgulhava e se orgulha de um Presidente popular que não faz “feio” perante os doutores.

Vamos lembrar de um outro fato. Lula chamou o Presidente Bush de companheiro. Arghhhhh como o nosso Lula denomina de companheiro, uma expressão tão cara a nós, aquele terrorista, explorador, fomentador de guerras, etc...? Muitos entenderam como uma submissão ao “imperador” americano. Mas na verdade o que o Governo Lula estava fazendo? Esvaziou a Alca não só no Brasil, como em praticamente toda a América do Sul. Posicionou o Brasil contra os USA na crise da exploração de energia nuclear pelo Irã. E várias outras políticas contrárias as proposta e idéias do “companheiro” Bush.
Nos oito anos do seu governo, LULA corretamente se portou como Presidente, mas mantendo os propósitos e ideais do militante. Somente no final do seu mandato, no segundo turno da campanha de Dilma, Lula foi se despojando das vestes de Presidente e assumindo as do companheiro. Lembram-se de suas estocadas no PIG e em particular no Otavio Frias? Lembram-se do seu combate eleitoral contra a velha elite do Senado (Marco Maciel, Artur Virgilio, Heráclito, etc..)? Naquele momento da campanha, com a vitória a vista, Dilma começava a se vestir de Presidenta enquanto Lula nos fazia lembrar de seu macacão.

Agora, vemos nossa companheira Dilma vestida integralmente de Presidenta. Desde o primeiro dia do mandato o PIG tenta distanciar Dilma de Lula. Uma manobra para continuar batendo no Lula e convencer a população que Dilma é diferente, e pra melhor. Mas, melhor pra quem, cara-pálida? Eles querem vender a imagem de Dilma mais afeita ao que uma Presidenta deva ser aos olhos da elite. Mas Dilma não se rende. Enfrenta os adversários em qualquer campo. E corajosamente foi à festa da Folha de São Paulo, apoiadora da ditadura que lhe torturou, deu entrevista para Ana Maria Braga da Globo que tantas mentiras inventou contra nossa então candidata, e agora vai aparecer no Programa da Hebe, malufista assumida e que apoiou Serra. 

Eu não quero aqui discutir se é uma tática, correta ou não, de se aproximar de uma parcela da população que ela não tem acesso como o Lula tem; ou se ela quer mostrar que além da firmeza de guerreira e Presidenta tem a ternura da dona de casa, como toda mulher e homem devem ter. Não sei avaliar ao certo a sua tática, mas eu pergunto, vocês acham que em 60 dias essa mulher no vídeo abaixo mudou de lado, de tática ou abandonou a sua militância de uma vida inteira? Todos nós vimos estas imagens antes:





Precisamos entender que assim como LULA soube vestir a indumentária de Presidente, sem perder o militante dentro de si, a Dilma também está mostrando este traquejo.

Me parece que muitos militantes que se identificaram imensamente com aquela mulher, guerrilheira, que não se entregou sob tortura, que não se entregou na doença, que mesmo com todas as críticas que recebeu de que não sabia falar em público, não tinha carisma, etc.., com a vitória da eleição esqueceram tudo isso. Enfim, me parece que muitos militantes esqueceram a história dessa guerreira e daquilo que Lula experimentou e deixou como legado político. Na ansiedade, justa e compreensível, gostariam de vê-la rejeitando a FSP que tanto nos feriu, até mais do que a ela; recusando aparecer como mulher comum/incomum para a audiência do Mais Você, daquela emissora que desavergonhadamente mentiu sobre nossa companheira militante.

Eu acho que compreendo essa angústia, mas por favor, atenção. Dilma foi naqueles malditos lugares como Presidenta e não como militante/candidata. Eu sei que as críticas e insatisfações expressas por estas atitudes de Dilma não tem o objetivo que o PIG e a direita tem de enfraquecer nossa Presidenta, mas me preocupo com a possibilidade de a direita usar as nossas angústias, dúvidas e argumentos para reforçar, na linha que fizeram com Lula, a idéia de que Dilma perdeu a alma de militante. 

Se queremos combater o PIG, o poder econômico por trás dele, e a direita, temos mais é que reforçar a luta social e política pelos projetos que ela Dilma se comprometeu com o povo brasileiro. Reforçar a mobilização e o debate pela nova regulamentação da mídia que nosso Paulo Bernardo está trabalhando. Reforçar a organização da militância junto ao PT, com todas as dificuldades que sei que existem, para a campanha da Reforma Política, enfim, fazer aquilo que Dilma sempre fez como militante e que, agora como Presidenta, precisa que nós continuemos a fazer, para dar a ela forças de resistência às pressões que sofre e sofrerá.

Isto não quer dizer abrir mão das críticas, do debate político/ideológico, e dos enfrentamentos fraternos que temos que ter entre nós. Lembremos que ainda temos que jogar no terreno do adversário, porém, não para o adversário.

Nós temos nossa PRESIDENTA. E Dilma tem a nós como MILITANTES. Porque:

“A vitória dessa mulher será minha vitória. A derrota dessa mulher será minha derrota”. Lula.

Um comentário:

  1. Tuas palavras aliviam minha alma. Não quero perder Dilma para o PIG. Ela é uma conquista nossa. Acredito nas tuas palavras, Jorge, estou mais tranquilo.
    Ivan Ferraz

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