sábado, 16 de agosto de 2014

A MORTE TRÁGICA DE EDUARDO CAMPOS E AS ELEIÇÕES







A MORTE TRÁGICA DE EDUARDO CAMPOS  E AS ELEIÇÕES


    Muito tem sido dito, pela imprensa, sobre as consequências da trágica e infeliz morte do candidato Eduardo Campos nas eleições. Não me aterei aos elogios, devidos ou não, ao candidato, mas está muito claro que a maioria das coisas que tem sido publicadas não o seriam se vivo e em campanha ele estivesse. Para o bem ou para o mal, a morte é ingrata para nós humanos.
    Porém, é interessante algumas assertivas sobre as eleições, passadas algumas somente horas do desastre.
    A primeira, e mais impressionante, é que Marina assumindo o lugar do candidato torna o segundo turno mais provável. Mais provável? Está probabilidade já não estava dada segundo a imensa maioria dos "analistas" da imprensa, antes da morte de Eduardo? E se está probabilidade só se torna mais provável, ou praticamente certa, de acordo com a análise/torcida dos comentaristas, então a a conclusão deles é de que a candidatura de Eduardo estava errada e ele, o candidato, errou ao colocar Marina como vice. Mas esta crítica não era explicitada ao comentar as pesquisas, do tipo: "ah.... se fosse Marina a candidata...." Não consigo deixar de dizer: como são pobre de análises dos nossos especialistas em eleição. Ouso afirmar que, no nosso meio jornalístico, especialista ganhou a conotação de torcedores.
    A segunda, e não menos impressionante, é, em função da torcida por Marina assumir o lugar de Eduardo, o esforço para demonstrar uma afinidade e identidade entre os dois para tornar naturalíssimo a ex-ministra substituir o psbista. E ela, Marina, reforça isso dizendo que nos últimos 10 meses de convivência com Eduardo aprendeu muito com ele e se sente como que uma extensão do próprio.
  Ora, até as pedras sabem que o casamento político dos dois foi um arranjo de conveniências por Marina não ter conseguido legalizar seu partido por falta de adesões, o que expôs que sua liderança política não era tão grande assim, mesmo depois dos 20 milhões de votos, e pela necessidade de Eduardo carecer de um vice que lhe desse alguma capacidade eleitoral de se apresentar para além das fronteiras pernambucanas. Aliás, as pesquisas até então demonstravam que, mesmo nos demais estados da federação, inclusive nordestinos e os governados pelo PSB,  o desempenho eleitoral de Eduardo estava abaixo do esperado. Na minha opinião, Eduardo não estava preocupado se ele seria um candidato mais viável que Marina; ele sabia que não teria condições de se eleger agora, mas seu nome  poderia sair fortalecido para 2018, onde Marina já teria seu nome mais esquecido pelo tempo sem mandato e, talvez, difícil de afirmar, sem a consolidação da REDE.
    A candidatura de Marina agora nascerá inevitavelmente de uma crise: a morte do candidato e líder hiper-centralizador e sem substituto natural na direção do PSB. Pode ser, isto não é impossível, mas altamente improvável, que as várias lideranças, menores que Eduardo e Marina, abram mão de suas posições e opiniões, em prol de uma unidade consensual em torno da ex-ministra. Será? Dez meses de convivência entre os dois são de fato suficiente para aparar todas as arestas? Nas outras lideranças  aconteceu esta convivência pacífica? As disputas internas entre o PSB e REDE nas montagens dos palanques estaduais se manterão sem estremecimentos? Os financiadores de Eduardo manterão a ajuda para Marina? Não bastam as declarações de boa vontade dos envolvidos, é preciso observar como as realidade se desenvolverá. Estas e outras questões não tem respostas prévias. Só o tempo dirá. Aliás o tempo é curto e quem quer resultados para forçar o segundo turno não poderá esperar demais para, se for o caso, mudar de barco.
Talvez por isso a mídia tem sido tão generosa em elogios que nunca fez a Eduardo (vide abaixo dois exemplos de editoriais da FSP e JT/Estadão nos meses passados). As primeiras pesquisas, pós comoção e intensa exposição de mídia, vão confirmar se Marina de fato irá, em termos de voto, muito mais longe que Eduardo.





E aí vem o terceiro drama dos anti-Dilma. Se Marina não crescer logo o segundo turno pode se distanciar do horizonte. Por outro lado, se Marina crescer bem e rápido pode ameaçar o segundo lugar de Aécio, que contrariamente aos candidatos do PSDB, Serra e Alckmin, nas outras eleições presidenciais,  neste mesmo período, já estavam com mais de 30%. Eles não podem errar na mão em favor de Marina, sob pena de tudo virar uma grande crise nas eleições para a oposição. E vamos lembrar que o Lula ainda não apareceu na televisão defendendo a Dilma e não sabemos o que virá de denúncias por aí, esse vício de campanha que substituiu o necesário debate de projetos e propostas.
Um outro dado, menos importante, mas que pode ser decisivo, é a situação de Pernambuco. Lá Dilma e Eduardo estão próximos nas pesquisas. Na terra de Lula os votos de Eduardo irão para Marina ou Aécio? O mais provável ê que migrem para a candidata de Lula, inclusive porque o candidato a governador de Eduardo está longe nas pesquisas do candidato Armando Monteiro que apóia Dilma. Se Dilma arrastar a maioria dos votos de Eduardo em Pernambuco, isso resultará provavelmente, pelo fator Lula, que os votos do psbista nos demais estados da regíão sejam influenciados a migrar para Dilma também.
Por fim, no sul/sudeste se Marina for a candidata e crescer ela tenderá a tirar mais votos de quem: Dilma ou Aécio?
Cruzes, olha a confusão que a trágica morte de Eduardo pode causar. Os nervos estarão à flor da pela nas próximas semanas. Primeiro a espera da definição. Segundo pelas repercussões internas no PSB/REDE. Terceiro pelo que pode alterar nas pesquisas, já com o programa eleitoral de Rádio e TV no ar e Lula viajando o país em campanha.


PS: Escrevi este artigo mais com perguntas do que respostas para ser também uma ajuda no pensar o quadro eleitoral. Outras questões e dúvidas pululam pelas cabeças pensantes. Vamos debater e fazer campanha. Eu tenho posição e todo mundo sabe: minha candidata é Dilma.

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