domingo, 11 de setembro de 2011

ONDE ESTAVA ONTEM A CORRUPÇÃO DE HOJE?




Pela falta de análise histórica e pela censura que a mídia e o conservadorismo da nossa sociedade impõe, parece que foi só nos últimos anos que a corrupção correu solta no país, desviando bilhões dos cofres públicos. Mas não é bem assim, e os corruptores e quem guarda a memória sabem disso.

De fato nos últimos tempos o assalto aos cofres públicos é explicito e se localiza diretamente nos orçamentos da União, Estados e Municípios. Mas anteriormente o assalto se realizava em outro lugar, mais escondido da sociedade, mais seguro. Aliás naquele tempo não se falava muito a palavra corrupção, usava-se o termo de favorecimentos ilícitos, gestão temerária, etc.  A corrupção estava, entre outros lugares, muito bem instalada no sistema financeiro, em particular nos bancos públicos onde os governantes de plantão usaram e abusaram deles para favorecer, em boa parte, os mesmos corruptores de hoje. Vamos lembrar.

Praticamente todos os bancos estaduais faliram por conta de empréstimos podres que foram concedidos a empresários amigos dos governantes de plantão.

O Banespa foi um dos que maior prejuízo deixou a nação. Ações do Ministério Público nunca chegaram de verdade a investigar a fundo o assalto aos cofres do Banespa e outros. O Banerj escandalizou a sociedade carioca. O Bandepe, que foi usado para construir o estádio do Arruda, e que também jogou rios de dinheiro nas mãos dos usineiros que nunca devolveram. Usineiros que faliram as usinas, mas acumularam um bom patrimônio na Avenida Boa Viagem, no Recife e financiaram boa parte dos políticos ligados à ditadura. Banco do Estado do Maranhão, cujas famílias oligárquicas secaram seus cofres. Poderiamos citar um a um todos os bancos estaduais, que sem exceção, participaram, nas décadas de 70 e 80, da farra de empréstimos a fundo perdido. Perdido pra quem? Até bancos privados foram usados para a política de favorecimento político e enriquecimento ilícito, como o Banco Econômico que na Bahia era o segundo orçamento do governo de ACM.

O prejuízo final foi parar aonde? No PROER de FHC que usou bilhões dos cofres públicos para sanear estes bancos e passa-los limpos para os banqueiros privados, nacionais e internacionais. Além dos bilhões do PROER, lembram-se da chamada parte podre dos bancos? Foram estatizados e ficaram para o Banco Central contabilizar o prejuízo.

Quantos bilhões foram aí desviados? Como se não bastasse isso, cerca de 400 mil bancários foram sumariamente demitidos, em plena recessão econômica, sem condições de encontrar outro trabalho. Muitos passaram de classe média para miseráveis. Dezenas, centenas talvez, anônimos, suicidaram-se.

Mas não foi só isso. No sistema financeiro ainda foram usados e abusados os recursos dos bancos públicos federais, que não quebraram por serem profundamente enraizados na sociedade brasileira que os sustentou. Quantos operações de crédito do Banco do Brasil, a empresários de diversos setores econômicos, particularmente da agricultura, foram usados para financiar eleição de candidatos do governo? O Banco do Nordeste, quem se lembra de Byron Queiroz, o presidente do banco preferido de FHC, que jogou o BNB na lona, e que só sobreviveu por força da luta de seus funcionários e da organização sindical. A Caixa Econômica, o BASA, o BNDS quantos bilhões emprestaram como fundo perdido. Os bilhões que o BNDS jogou nas mãos de investidores estrangeiros para comprar a preço de banana empresas estatais como a Vale do Rio Doce.

Pois é naquela época não se tratava disso propriamente como corrupção. Falava-se no lucro que banqueiros tiveram com o PROER. Mas nós sabemos que aqueles bilhões foram usados para enriquecimento ilícito e para empresários financiarem eleições dos candidatos governistas daquele período. E saíram do orçamento público. Um parênteses só para lembrar certas discussões. Bolsa família para ajudar a sobrevivência de miseráveis é assistencialismo eleitoreiro, e o PROER, foi o quê?

À medida que o sistema financeiro estadual quebrou, que a SELIC foi pra estratosfera dos 40% anuais, que era mais vantajoso para os bancos a ciranda financeira, os corruptores foram buscar os recursos diretamente no orçamento da união.

E qual o caminho que eles fizeram para chegar ao orçamento da união. Aumentaram os valores das emendas individuais dos parlamentares, instrumento criado pela ditadura militar, e estão se aproveitando que o governo Lula e Dilma aumentaram os investimentos em obras estruturadoras em todo o país. Os corruptores criaram um sistema de adentrar as licitações através de governantes e servidores corruptos. Se investigarmos a fundo os beneficiários desta atual corrupção não serão muito diversos daqueles que assaltaram os bancos públicos. E uma parte considerável de parlamentares estão diretamente envolvidos nestes “favorecimentos” de licitações. Como o crime organizado que se infiltrou nas polícias, os corruptores se infiltraram nas repartições públicas e no judiciário. Como parte do Congresso se beneficia de financiamentos de campanha com esta política, a Reforma Política não avança. É só ver quem resiste a levar adiante a reforma. Não vejam pelo discurso, mas sim pelos votos, posicionamentos lá dentro do parlamento e pelos financiadores de suas campanhas.

Acho que toda luta contra a corrupção é importante. Umas mais, outras menos. Umas sinceras e outras demagógicas. A Frente Parlamentar contra a corrupção puxada por parlamentares do DEM/PSDB e alguns do PMDB é majoritariamente formada por quem é contra a alteração do atual sistema político que os favorece eleitoralmente.

É verdade que a sociedade está incomodada com todas as denúncias de corrupção, mas o movimento que ocorreu no dia 7 de Setembro, como luta real contra a corrupção, parece não ter futuro. Os organizadores deste movimento, que não foi tão espontâneo assim (a imprensa ajudou bastante na divulgação), não conhecem (outros fingem não conhecer), e portanto não consideram, o processo histórico da formação da máquina corrupta no Brasil. Não sabem articular a luta contra a corrupção às transformações necessárias para acabar com ela como processo que se organiza historicamente. Talvez ele até contribua para mobilizar certos setores que estavam na apatia, mas se o movimento não tiver uma perspectiva política clara ou se mostrar uma faceta política conservadora, logo se esvaziará como aquele tal do CANSEI.

Veremos. 

2 comentários:

  1. Um texto com a ponderacao que nao e costumeira em militantes de esquerda. Embora discorde pontualmente, e uma analise embasada e respeitosa.Parabens! Sulains

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  2. Ótimo texto.
    Para a grande mídia a corrupção foi inventada pelo PT e deverá acabar quando o partido deixar o poder.
    É uma grande embromação histórica, que deve ser combatida.
    Ao mesmo tempo, o governo precisa ser implacável com os corruptos.

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